Hora-shastra: esse é um dos termos usados para designar a astrologia indiana (jyotisha). Shastra refere-se a esse conhecimento na sua qualidade de uma disciplina tradicional, enquanto hora é, de acordo com alguns, uma corrupção da palavra ahoratra, onde aho se refere ao dia, e ratra se refere a noite. Logo, pode-se concluir que a palavra hora está diretamente relacionada ao movimento do tempo, o qual sempre se alterna entre dias e noites, expressando assim a dualidade inerente ao mundo. Portanto, o que seria o hora-śastra senão o estudo o movimento e das qualidades do tempo?
A filosofia vedanta, o ponto culminante do pensamento védico, expõe a existência de três tattvas (verdades axiomáticas) que compõem a nossa realidade material, ou o campo (kshetra) onde se efetivam todas as ações: (1) o karma ou o ciclo sem princípio de ações e reações, (2) o kala, ou o tempo eterno e (3) prakṛti, a natureza, que é composta de oito elementos básicos: o éter, o ar, o fogo, a água e a terra, os quais são designados elementos densos e, por fim, a mente, a inteligência e o falso-ego, denominados elementos sutis.
Esses três tattvas (karma, kala e prakrti), ou princípios, estão entrelaçados entre si e formam o tecido da realidade material. O jyotishi, isto é, o astrólogo, enquanto aquele que estuda os movimentos e as qualidades do tempo, trata, portanto, de avaliar como esses três princípios incidem sobre a realidade de um indivíduo, o que se faz por meio de seu mapa astrológico, denominado na tradição como jataka, ou kundali.
No caso, o mapa compreende em si os arranjos celestes presentes no momento do
nascimento do indivíduo, sendo que esses apontam, por meio da linguagem simbólica, as consequências das ações que realizamos em vidas passadas sobre essa vida atual.
Os astros, portanto, embora não sejam os causadores de nossas felicidades e tristezas, podem ser considerados como sendo os emissários do destino (daiva), os indicadores dos frutos que temos para colher em uma vida. Por meio da observação de seus movimentos podemos, assim, interpretar as experiências pelas quais um indivíduo passou, passa e irá passar no decorrer de sua existência.
Basicamente, tudo aquilo que concerne uma existência terrena particular, ou seja, tudo aquilo que vai desde o nascimento até a morte, pode ser contemplado em um horóscopo (jataka ou hora), sejam indicações relativas a saúde, a condição econômica, as experiências afetivas, profissionais, espirituais, etc.
Em essência, não há diferenças entre os vários sistemas astrológicos, uma vez que todos tratam de estudar a natureza do karma individual, porém, a forma como cada sistema se estrutura é sempre distinta em muitos aspectos. O mérito do jyotiṣa, no caso, está em ser uma astrologia sideralista, com incontáveis técnicas preditivas, um sistema de vinte e sete nakshatras (asterismos) que é complementar aos doze signos, uma base filosófica riquíssima – devido a sua inseparável relação com a sabedoria indiana presente nos puranas, upanishads, itihasas, etc, a sua proximidade das disciplinas do yoga, a sistemática categorização das configurações astrológicas (denominadas yogas), dentre tantos outros elementos que fazem do jyotiṣa, sem sombra alguma de dúvida, o mais complexo e rico sistema de astrologia.
oṁ tat sat Este mantra significa OM é a Verdade (Tat: isto; Sat: verdade).
Goura Hari dāsa
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